Lei de Finanças Regionais - Uma colossal manobra política num mar de falsidades
A aprovação por unanimidade, em 1998, da primeira Lei de Finanças Regionais, mais de 20 anos após a consagração constitucional das regiões autónomas constituiu – para lá das observações criticas sobre alguns dos seus aspectos então sublinhadas pelo PCP – uma importante contribuição para estabelecer um quadro transparente, adequado e estável nas relações financeiras entre o Estado e as regiões autónomas. Um regime que, no fundamental, estabeleceu um marco na normalização e estabilização das relações financeiras pondo fim a uma situação sem regras nem critérios.
A imposição pela maioria absoluta do PS em 2007 de uma nova Lei de Finanças Regionais, revogando a Lei de 1998 aprovada na vigência do governo de António Guterres, constituiu um acto gratuito de discricionariedade movido por uma deliberada intenção de prejudicar a região da Madeira. Em nome de uma discriminação positiva da região dos Açores, que não se contesta, e de um alegado desenvolvimento da Madeira (construído não na base sólida do desenvolvimento da região mas sim do efeito estatístico do off-shore da Madeira no valor do PIB per capita), o que a maioria parlamentar do PS visou foi sobretudo um acto de retaliação partidária e discriminação política que prejudicou sobretudo quem vive e trabalha naquela região.
A Lei agora aprovada pela Assembleia da República mais não faz do que reparar uma injustiça e repor valores mínimos de transferências para as regiões autónomas, designadamente para a Madeira, contribuindo assim também para retirar ao Governo Regional da Madeira e ao PSD o argumento para justificar o vasto conjunto de problemas económicos e sociais da região decorrentes da sua governação que estão muito para lá das dificuldades adicionais impostas pela Lei de 2007. E fá-lo garantindo o nível de financiamento já existente para a região dos Açores, com um ligeiro acréscimo relacionado com a distância entre ilhas.
O PS e a Lei de Finanças Regionais
A pretexto da discussão e aprovação da Lei de Finanças Regionais, PS e Governo desencadearam uma operação sem precedentes de vitimização, dramatização e chantagem. Uma operação que – para lá do que representa de uma arrogante atitude de quem se julga ainda com a maioria absoluta que lhe foi negada e de uma ostensiva desvalorização da Assembleia da República bem patente na ostensiva declaração de que aprove o Parlamento o que aprovar o Governo não cumprirá – visou no essencial cinco objectivos:
1 - Instrumentalizar o justificado sentimento crítico existente sobre a governação de Jardim e do PSD na Madeira (aliás curiosamente objecto de rasgados elogios das principais figuras do PS quando se deslocam à região em contraste com a decidida e corajosa intervenção de oposição dos comunistas na Madeira) fazendo crer que as transferências são para o Governo e não para a região onde vivem e trabalham mais de 250 mil pessoas. Uma instrumentalização por parte do PS que visa tentar captar o apoio da opinião pública para uma manobra de vitimização que lhe caucione a política que tem conduzido;
2 - Procurar encontrar na Lei de Finanças Regionais – e na fantasiosa leitura catastrófica que PS e os comentadores ao seu serviço procuraram fazer passar – o biombo por detrás do qual se encontraria a justificação para o conjunto das dificuldades que a política de direita tem vindo a impor ao país e para o conjunto de novos sacrifícios que a pretexto da situação o Governo se prepara para exigir aos trabalhadores e ao País;
3 - Desviar, a propósito desta questão, a atenção sobre os principais e reais problemas do País que a política, as opções e orientações assumidas pelo Governo – mais uma vez patentes na proposta de Orçamento de Estado para 2010 – têm vindo a agravar. Ou seja, iludir que aquilo que arruína o País não é a lei de finanças regionais mas sim a política de direita do Governo PS e que o Orçamento do Estado agravará;
4 - Disfarçar, a pretexto de uma questão manifestamente lateral, a profunda identidade e convergência do PS com o PSD e o CDS, testemunhada no acordo construído em torno do Orçamento de Estado e na esclarecedora confissão do ministro Pedro Silva Pereira sobre a ambicionada extensão deste casamento político de momento a uma relação duradoura de compromisso nas matérias e opções económicas, orçamentais e políticas;
5 - Insinuar que o conjunto de medidas restritivas e atentatórias dos direitos e rendimentos dos trabalhadores (de que é exemplo o congelamento de salários na Administração Pública) resultariam das delirantes consequências que o PS tem procurado atribuir à Lei de Finanças Regionais, e não de uma ostensiva atitude determinada pela ruinosa opção por uma política recessiva dirigida a penalizar os mesmos de sempre e a manter intocáveis os privilégios e lucros do grande capital.
Das mentiras à realidade
A nova Lei de Finanças Regionais não aumenta o endividamento. Antes pelo contrário. O novo texto fixa agora um limite máximo de 50 milhões de euros ao endividamento das Regiões Autónomas bem inferior àqueles que hoje era permitidopela lei agora revogada.
A nova Lei de Finanças Regionais fixa valores de transferências para as regiões autónomas que, no caso da Madeira, não repõe sequer o nível de financiamento que a região usufruiria se estivesse em vigor a lei de 1998. Ou seja, o volume de transferências fixado é, no caso da Madeira, inferior ao verificado em 2006.
A Lei de Finanças Regionais fixou critérios e volumes de transferências que não compensa a RAM pelas verbas retiradas em 2007, 2008 e 2009 por uma lei injusta e discricionária.
Cinco questões para pôr a nu a hipocrisia do PS
1 - Por que razão o ministro Teixeira de Santos que agora pretende apresentar os 50 milhões de euros fixados como limite de endividamento como a ruína das contas públicas, autorizou pelo seu punho, só no ano passado, mais de 130 milhões de euros para a Madeira?
2 - Que autoridade tem um governo que prevê no Orçamento do Estado um endividamento de 17 mil milhões de euros para insinuar que os 50 milhões atribuídos às regiões constituiriam o caos orçamental?
3 - Se os 50 milhões de aumento no volume de transferência prevista para a Madeira comprometem o combate ao défice, por que razão o Governo não opta por tributar o off-shore da Madeira que só no ano passado registou 1090 milhões de euros de benefícios fiscais, e que os mantém para 2010?
4 - Por que razão o PS optou por diabolizar a Madeira a propósito da Lei de Finanças Regionais quando repetidamente as principais figuras do PS – de Jaime Gama a Almeida Santos - sempre que se deslocam àquela região se desfazem em elogios a Jardim e à sua «obra»?
5 - A avaliação crítica que se possa e deva fazer a uma qualquer gestão autárquica em muitos dos concelhos do País legítima o corte de financiamento das verbas devidas a esses municípios?
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Lei de Finanças RegionaisUma colossal manobra política num mar de falsidades
Numa altura em que muito se tem falado das transferências para a Madeira, aqui fica a limpida clareza dos argumentos do PCP- In Avante
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