domingo, 15 de maio de 2011

Lutar - Mostrando Indignação




Pretender que a situação actual se deve a termos “vivido acima das nossas posses”, que é necessário um esforço comum, ou que não vale a pena estar a determinar “culpados”, não só é absolutamente falso, como procura evitar mostrar que os mesmos que agora discursam foram, uns mais, outros menos, mas todos eles, responsáveis à vez e cúmplices da paulatina destruição do sistema produtivo nacional, da descarada transformação da dívida privada em dívida pública, e do acatamento de uma fórmula de convergência económica com os restantes países da zona Euro, nominal, mas não real, que consagrou uma moeda forte que favorecia os interesses comerciais da Alemanha em detrimento da fortíssima contracção das exportações nacionais.
Os partidos, que agora se denominam de “arco do poder”, como se a decisão sobre a escolha de quem exerce o poder não coubesse, ou fosse suposto caber, ao povo soberano, e a quem já tentaram chamar de “arco constitucional”, omitindo que o CDS votou contra a constituição de 76, e que portanto não se revê no regime de Abril, vêm desde os primeiros Governos constitucionais promovendo as mais diversas alterações, às quais esta mesma constituição não esteve isenta, consagrando assim as alterações que conduziram à actual situação económica.
As soluções governativas que conduziram ao desastre, de que procuram culpabilizar agora o povo, tentam ainda assim e mesmo perante a intervenção externa, que diga-se com todas as letras não passa de pura agiotagem com uma “ajuda” que será paga a peso de ouro, manter o controlo da situação, lutando pela prorrogativa de serem os sátrapas de FMI, BCE e UE, na aplicação das medidas exigidas por estes a Portugal.
A ampla convergência que nos propõem, e na qual muitos se deixam conduzir, permite-lhes continuar as mesmas políticas que aplicaram, aliás permite-lhes ganhar fôlego suficiente para que os portugueses aceitem situações aviltantes de maiores cortes de salários e regalias sociais, sem que estas conduzam a nenhuma solução, tal como não o conduziram nem na Grécia nem na Irlanda – Como pode alguém imaginar que aqui seria diferente?
Apesar de rejeitar categoricamente a dívida que nos impõem, que na verdade é uma dívida criada pelo dinheiro que o Estado colocou nos Bancos, a proposta apresentada de renegociação da dívida, que é apresentada pelo PCP e que colhe nos partidos à esquerda, nem sequer pode ser apontada como uma solução utópica de comunistas e esquerdistas, uma vez que a agência Bloomberg (esse canal insuspeitíssimo de esquerdismo) apresenta a mesma medida como solução para os países do sul, sem afundar a economia e fazer disparar o desemprego.
É por demais óbvio que contrariamente ao que é dito as opiniões dos partidos à esquerda não só contam, como são absolutamente fundamentais para alterar o curso da situação. Mas contar não significa um grande entendimento ou coligação. Os partidos são entidades emanantes da sociedade, com projectos de organização económica e social próprios e na maior parte das vezes irreconciliáveis, não é possível que num mesmo governo se encontrem propostas absolutamente antagónicas. Acontece que umas são as dos responsáveis pela actual situação e as outras daqueles que criticaram, alertaram e propuseram alternativas.

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